Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Em 1965, o mestre Paulo Emílio Salles Gomes não poderia prever as transformações tecnológicas que atravessariam o cinema nos 50 anos seguintes. Entretanto, em termos estéticos, o movimento que se criou em torno da Semana do Cinema Brasileiro, que mais tarde viria a ser o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, foi definidor para o futuro do audiovisual nacional: um festival político, lançador de tendências e capaz de acompanhar as transformações nas formas de se ver e fazer cinema.
Em 2021 chegamos à 54ª edição deste, que é o mais longevo festival de cinema do Brasil. Realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) em parceria com a Associação Amigos do Futuro entre os dias 7 e 14 de dezembro de 2021, o Festival exibe seus títulos virtualmente, tal como em 2020, em função dos riscos da pandemia de Covid-19. Sob o tema "O cinema do futuro e o futuro do cinema", a maratona de filmes, debates, masterclasses, oficinas, encontros setoriais e ambiente de mercado, tem curadoria de Sílvio Tendler e Tânia Montoro.
A dupla traz ao projeto uma curadoria afetiva e política, preocupada em pensar o lugar do cinema no futuro posto. Sílvio e Tânia são os responsáveis pelo tema e a estruturação criativa de todas as atividades do Festival. Já nas Mostras Competitivas, como de praxe, os curadores contam com apoio de comissões de seleção que dão conta do grande volume de obras inscritas.
Dentre os 985 filmes inscritos, foram selecionados seis longas e 12 curtas para pleitear os troféus Candangos na Mostra Competitiva Nacional, além de quatro curtas e oito longas para concorrerem na Mostra Brasília. A comissão de seleção dos longas nacionais foi composta por Lino Meireles, Luiz Carlos Merten, Sandra Kogut, Nicole Puzzi e Pedro Caribé. Já os curtas nacionais foram selecionados por Adriana Vasconcelos, André Luís da Cunha, Flávia Barbalho, Paula Sacchetta e Paulinho Sacramento. A Mostra Brasília contou com Flavia Guerra, Maíra Carvalho e Marcelo Emanuel dos Santos na comissão de seleção.
Segundo o secretário Bartolomeu Rodrigues. “O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro sempre, em sua natureza, foi um espaço para o diálogo com o que está por vir. Daqui, nasceram linguagens, estéticas e debates políticos que construíram a identidade do novo cinema brasileiro. Essa edição nasce histórica porque vai pautar esse mundo pós-pandemia. Nada será como antes, e essas tendências serão examinadas nos dias de festival”.
Os filmes da 54ª edição
A seleção de longas da Mostra Competitiva traz quatro ficções e dois documentários da Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Alice dos Anjos (BA), de Daniel Leite Almeida, leva as fantasias de "Alice no país das maravilhas" à paisagem do sertão baiano; Lavra (MG), de Lucas Bambozzi, expõe as feridas da devastação ambiental percorrendo os caminhos da lama tóxica e criminosa que devasta cidades inteiras; Acaso (DF), de Luis Jungmann Girafa, traz o estilo on the road à famosa via W3 de Brasília, celebrando a casualidade das grandes cidades.
Ela e eu (SP), de Gustavo Rosa de Moura, fala sobre a adaptabilidade do ser humano a eventos inesperados, tendo Andrea Beltrão como protagonista; De onde viemos, para onde vamos (GO), de Rochane Torres, registra tradição e modernidade no dia-a-dia do povo indígena Iny; e Saudade do Futuro (RJ), de Anna Azevedo, é uma ode à saudade - palavra tão característica da língua portuguesa - filmada entre Brasil, Cabo Verde e Portugal.
Entre os curtas nacionais, figuram cinco obras de São Paulo, duas do Distrito Federal, sendo as demais produções da Paraíba, Amazonas, Paraná, Rio Grande do Sul e Pernambuco, sendo nove ficções e três documentários. Ocupagem (SP), de Joel Pizzini, retrata o encontro do escritor Julián Funks com as líderes do movimento sem-teto Carmem Silva e Preta Ferreira; Terra Nova (AM), é uma ficção sobre uma atriz de teatro solicitando seu auxílio emergencial; Filhos da Periferia (DF), de Arthur Gonzaga, debate juventude e violência em contextos periféricos.
Chão de Fábrica (SP), de Nika Kopko, é uma produção 100% feminina que retrata o cotidiano de quatro operárias em seu convívio no banheiro feminino; Deus me Livre (PR), de Carlos Henrique de Oliveira e Luis Ansorena, retrata a dura vida de coveiros no cemitério Vila Formosa - que mais enterrou vítimas de Covid-19 no Brasil; Adão, Eva e o Fruto Proibido (PB), de R.B. Lima marca o reencontro de uma mulher trans e seu filho adolescente, separados no nascimento.
Como respirar fora d'água (SP), de Júlia Fávero e Victoria Negreiros, reflete sobre conflitos no convívio de uma jovem negra e lésbica com a polícia militar, dentro e fora de casa; Cantareira (SP), de Rodrigo Ribeyro, expõe os paradoxos da metrópole e natureza; Sayonara (SP), de Chris Tex, trata de traumas violentos e vingança; Era uma vez… Uma princesa (RS), de Lisiane Cohen, sai em busca de sentidos diante da ausência de vida numa relação familiar; e Da boca da noite à barra do dia (PE), de Tiago Delácio, documenta a tradição do cavalo marinho na Zona da Mata Pernambucana.
Os títulos da Mostra Brasília revelam uma produção local incessante, com jovens e veteranos realizadores concorrendo. Na abertura da Mostra - e em homenagem a Tânia Quaresma, cineasta que nos deixou em julho deste ano - o público assiste a Caçadores de História (2016), documentário que retrata a realidade das catadoras e catadores de materiais recicláveis do Brasil. Entre os longas selecionados para a mostra local, estão: o documentário Mestre de Cena, de João Inácio; e as ficções: Acaso, de Luis Jungmann Girafa (selecionado também para a mostra nacional); Noctiluzes, de Jimi Figueiredo e Sérgio Sartório; e Advento de Maria, de Vinícius Machado.
Entre os curtas que competem na Mostra Brasília estão quatro ficções e quatro documentários, sendo eles: Tempo de Derruba, de Gabriela Daldegan; Tinhosa, de Rafael Cardim Bernardes; Filhos da Periferia, de Arthur Gonzaga (selecionado também para a mostra nacional); Cavalo Marinho, de Gustavo Serrate; Benevolentes, de Thiago Nunes; Ele tem saudade, de João Campos; A Casa do Caminho, de Renan Montenegro; e Vírus, de Larissa Mauro e Joy Ballard.
Como assistir e votar?
As mostras competitivas do Festival de Brasília exibirão 28 títulos, entre curtas e longas, em plataforma na web e em canal por assinatura. O público assiste a todos os filmes do Festival gratuitamente na plataforma InnSaei.TV e também confere os longas da mostra competitiva nacional no Canal Brasil. A cada dia, o Canal Brasil lança um longa da Mostra Competitiva às 23h30. Logo na sequência, à 01h30 da manhã, o mesmo longa estreia na plataforma InnSaei.TV, ficando disponível até às 23h29 do mesmo dia.
Os curtas da Mostra Competitiva, bem como os filmes da Mostra Brasília e mostras paralelas estarão disponíveis exclusivamente pela plataforma InnSaei.TV (horários a consultar no site do festival). Vale ressaltar que as votações do Júri Popular estarão disponíveis exclusivamente na plataforma InnSaei.TV. O campo de votação aparece como pop-up logo após a exibição do filme na íntegra. Visite a programação no site do Festival para ter acesso a exibição de todos os filmes.
Homenagens
Como é de praxe, o Festival de Brasília homenageia seus veteranos na noite de abertura. Ainda sem filme de estreia revelado, já sabe-se a quem se dedica a edição 54° Festival. Esta edição oferece um troféu Candango especial pelo reconhecimento da obra de Léa Garcia, atriz carioca fundamental para o teatro e cinema brasileiros, em seus 88 anos de idade e 70 de carreira. O Festival homenageia também a professora Lucília Marquez e os atores Lauro Montana, Luiz Gustavo, Tarcísio Meira, Paulo José e Paulo Gustavo.
Inscrições para oficinas abertas somente até o dia 21
O Festival de Brasília já divulgou as oficinas desta edição. Com inscrições abertas até 21 de novembro, cada atividade tem 40 vagas e seus temas vão da modelagem para games e animação, a atividades ligadas a roteiro e finalização. Entre os convidados estão, Kevin MacDonald, idealizador e diretor de Life in a day (2020), Whitney (2018) e O último rei da Escócia (2006); Cavi Borges, experiente realizador carioca; Fabiana Mota e Fabiano, o Silva, especialistas em modelagem para animação; o roteirista e diretor de séries Marton Olympio; e a diretora criativa em novas mídias e cofundadora da SuperUber, Liana Brazil, dentre outros. Confira todas as oficinas disponíveis e inscreva-se gratuitamente aqui: https://festcinebrasilia.com.