Liberalismo, capitalismo e a galinha - Cesar Cantu
Civilização refere-se à sociedade cujo componente principal é o ser humano. Por isso, a evolução civilizatória atende a um desejo e necessidade humana de aceitação unânime.
O liberalismo assume, ardilosamente sem declarar, que o fim, o fator principal é o capital e o ser humano é o meio. E defende essa tese porque alega que é o capital que promove o desenvolvimento, gera empregos e renda. E prega que é ele, o conjunto do capital e suas operações - o mercado, que deve estabelecer as regras. Nenhuma coerência com o entendimento de civilização dado acima e os resultados negativos têm comprovado isso.
Os modelos doutrinários do extremo oposto pregam o contrário: O fim, o fator principal é o ser humano; o capital, é o meio. Quem gera investimento, emprego e renda é o ser humano nas suas diversas roupagens: Consumidor que compra, contribuinte que paga impostos, trabalhador que produz ou empreendedor que investe. Muito coerente com o que se chama de civilização já que o foco central é o ser humano.
Mas, o eterno paradoxo: Quem vem primeiro, quem é o principal, o ovo ou a galinha? Primeiro se paga o salário para se consumir ou primeiro se consome para gerar dinheiro, produzir e pagar salários?
Pode-se decifrar o enigma de forma intuitiva: Ao se eliminar o capital privado no liberalismo, o sistema sobrevive? Sim, vira capital estatal. E se tirar esse? Sim, vira capital individual ou cooperado dos próprios seres humanos. Mas, em contrapartida, tire o elemento humano - o consumidor que compra, o contribuinte que paga imposto, o trabalhador ou empreendedor individual e coletivo que produz, o sistema sobrevive? Não, não há como.
Portanto, o elemento principal, o fim sem o qual não se sobrevive é o ser humano, não o capital.
Então, por que essa obsessão de alguns pelo liberalismo? Simplesmente, interesses corporativos de uma elite muito poderosa. Nada a ver com evolução civilizatória.
César Cantu
São Paulo, 24.10.2021