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Miséria e miseráveis - Cesar Cantu

O biólogo epigeneticista Bruce H. Lipton, em seu livro “A Biologia da Crença” (Ver nota minha no final), conseguiu demonstrar a tragédia que a miséria causa à evolução civilizatória.

 

A constituição das células se faz através de dois mecanismos paralelos: O de proteção (Prioritário) e o de desenvolvimento. Esse modelo celular é estendido aos organismos vivos bem constituídos, incluindo o ser humano, que nada mais são do que sistemas de trilhões de células agrupadas em subsistemas, cada um com funções especializadas (Subsistema da nutrição, locomoção, neurológico e outros).

 

Quando um organismo vivo é submetido a um ambiente hostil, típico da miséria (Pré-natalidade precária, desnutrição, risco de segurança, desarmonia familiar e social, drogas, doenças, estresse contínuo e outros), o mecanismo de proteção é acionado prioritariamente e confisca toda a energia recebida relegando, a plano secundário, a energia destinada ao mecanismo de desenvolvimento (Físico, mental, intelectual, social e outros). Se o organismo estiver num ambiente oposto, totalmente saudável, toda a energia será canalizada para o mecanismo de desenvolvimento nos aspectos acima citados.

 

Conclui-se, de forma óbvia, que a miséria, para a evolução civilizatória, causa uma tragédia muito maior do que a simples precariedade das condições mínimas de vida: Quanto mais estiver um indivíduo ou sua comunidade sujeito a ela, mais precisa se proteger e menos se desenvolve. Essa brutal diferença entre os níveis de desenvolvimento é facilmente perceptível ao se observar duas comunidades opostas, uma no ambiente de precariedade e outra de fartura. Com isso, amplia-se, cada vez mais, o abismo entre as duas partes extremas da pirâmide socioeconômica e cultural.

 

Em consequência, todos os que se dedicam à luta para a evolução civilizatória devem considerar esse papel relevante negativo que a miséria causa. Esse aspecto é perfeitamente conhecido, no Brasil, pela elite e seus serviçais (Poderes de Estado, Forças Armadas, religiões, mídia e outros). Por isso, para manter seus privilégios, eles fazem questão de não eliminar a miséria de forma efetiva como se dedicam à defesa da própria riqueza, apenas praticam a caridade, uma forma de abrir a válvula de alívio para evitar a explosão do caldeirão.

 

Minha opinião sobre a obra: O experimento científico é bem sustentado, porém, o autor caiu no equívoco de tentar justificar, com suas conclusões, a legítima vocação espiritualista a qual aderiu num determinado momento de sua vida. Com isso, acabou transformando sua obra científica em pseudociência, gerando, ao seu trabalho, um certo descrédito e, obviamente, sem conseguir a sua intenção.

 

César Cantu

São Paulo, 12.10.2021