Cores - Cesar Cantu
A vocação das pessoas pelas cores costuma ser algo personalizado: As da bandeira nacional ou time esportivo, a percepção do belo, a moda, a cor dos ídolos, a ideologia, os símbolos e outros motivos.
Em criança, fui induzido ao patriotismo via bandeira nacional e fui atraído pelo verde, amarelo e azul. Verde das nossas florestas, amarelo das nossas riquezas e azul dos mares e rios. Nada mais atrativo para uma criança.
Com o avanço do conhecimento e a evolução, as preferências foram mudando. O amarelo da riqueza era, na verdade, o amarelo do ouro extraído e transportado por índios e negros escravos ao ritmo das chibatadas nas costas e arpoadas nas nádegas. E tudo para a luxúria da nobreza e enriquecimento do reino usurpador . Exclui o amarelo do meu cardápio.
De repente, outra cor diferente começa a se destacar. O ser mais importante da terra é o ser humano, nós mesmos, com sangue circulando pelas veias e alimentando todas as células. Apaixonei-me pelo vermelho, a cor da vida. Essa preferência teve um reforço muito significativo quando, ainda professando fé religiosa, visualizei o sangue de Cristo crucificado escorrendo como resultado de sua luta pelos oprimidos contra os opressores. Mas, lembrei-me: O sangue da nobreza é azul. Refutei, de imediato, essa cor. Afinal, que contribuição essa nobreza trouxe para a humanidade? Exploração, preconceitos, humilhações, miséria, violências, guerras, despotismo?
E, hoje, como estou? Bem, o sangue continua correndo em minhas veias. E as matas, apesar de estar sendo extintas, ainda existem e, sua preservação, faz parte de minha luta. Por isso, dou vivas ao VV – Vermelho-verde e recuso o AA – Amarelo-azul.
Mas, e a bandeira, nosso símbolo pátrio? A bandeira teve suas raízes na época da nobreza, já extinta no Brasil. As cores de nossa bandeira não acompanharam o ritmo da evolução. Questão de tempo para o VV chegar.
César Cantu
São Paulo, 03.10.2021