Cloroquina e crime de responsabilidade - César Cantu
Em abril de 2020, um médico francês (Didier Raoult) divulgou um artigo no International Journal of Antimicrobial Agents mostrando que a cloroquina curava a Covid 19. O mundo científico analisou e contestou a pesquisa e o próprio Didier Raoult acabou publicando novo artigo atestando que ela havia sido falha, mas, mesmo assim, persistiu nas afirmações da eficácia do medicamento. Ele está passando por processo disciplinar por tudo isso, na França.
Imediatamente, Trump abraçou a causa, disse que se curou da doença (Abril de 2020) com o medicamento e saiu divulgando e doando para outros países, inclusive o Brasil. Trump era pequeno acionista da Sanofi (Empresa francesa), único fabricante autorizado nos EUA e o principal acionista da empresa era grande doador do Partido Republicano.
Bolsonaro, fiel servidor de Trump, imediatamente abraçou a causa. Em julho 2020, adquiriu a doença e saiu divulgando que havia se curado com o uso da cloroquina. Passou a incentivar e, até, forçar a distribuição do produto nos hospitais públicos, o BNDES emprestou, em 2020, R$ 283 milhões para as fabricantes nacionais e para o Laboratório do Exército. As vendas no Brasil quase quadruplicaram. Acionistas dos fabricantes brasileiros, como a Aspen, EMS e Cristalia são bolsonaristas contribuintes declarados.
O mundo já tem certeza: A cloroquina, usado para o combate de protozoários, não cura e nem poderia curar uma doença viral. Houve interesse político e comercial em todo esse processo e poderá gerar graves consequências aos envolvidos. Bolsonaro e seus agentes do governo cometeram crime de responsabilidade contra a segurança pública ao divulgar e adotar medidas sanitárias sem embasamento científico e credenciamento por parte da Anvisa. Se houver lisura no processo legislativo, o impeachment deverá ocorrer. Por muito menos, já ocorreu no Brasil.
César Cantu
2021.06.19