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Memórias de um Senador - Ruy Telles

A opinião, da maioria dos brasileiros, é a de que os políticos brasileiros não merecem respeito, por terem todas as qualidade negativas do mundo. Para não dizerem que sou um crítico contumaz, que não conhece as entranhas do congresso nacional, transcreverei aqui, as palavras de um verdadeiro SENADOR (este merece se situado com letas maiúsculas) eleito em um Estado que hoje é citado como o antro da corrupção, o Amazonas: 

Fiz questão de colocar o que achei de mais contundente, pois o pronunciamento foi longo 

“Gostaria de estar aqui discutindo a respeito das riquezas naturais do Brasil e não como falarei, sobre algo muito pior: a dilapidação do capital ético deste País. 

Senador José Jorge, poderíamos não ter um barril de petróleo nem um metro cúbico de gás, mas poderíamos ser uma das potências mundiais em termos de desenvolvimento. 

O Japão não tem nada. Não tem petróleo, gás ou riquezas minerais. A Coréia do Sul também não tem nada disso, e nos dá um banho em termos de desenvolvimento não apenas econômico, mas também humano. 

O que está faltando mesmo a este País e sempre faltou é uma elite dirigente com compromisso com a coisa pública, capaz de fazer neste País o que precisaria ser feito: investimento em capital humano.........Estamos aqui no faz-de-conta. Como disse o Ministro Marco Aurélio, este é o País do faz-de-conta. Estamos fingindo que fazemos uma sessão do Senado, estamos em casa sem trabalhar. 

Estou em Manaus há quase um mês, “recebendo, sem fazer nada”  

Como se ter animação em um País como este, com um Presidente que, até poucos meses atrás, era sabidamente “como o é “ um Presidente conivente com um dos piores escândalos de corrupção que já aconteceu neste País e este Presidente está marchando para ser eleito, talvez, em primeiro turno? É desinformação da população? Não, não é. Se fizermos uma enquete em qualquer lugar deste País, todos concordarão, ou a grande maioria, que o Presidente sabia de tudo.........Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte. Democracia é isso. Curvo-me à vontade popular, mas inconformado.........  

Isso vem até da classe dos intelectuais, dos artistas. Que episódio deplorável aquele que aconteceu no Rio de Janeiro semana passada! Artistas, numa manifestação de solidariedade ao Presidente, com declarações cínicas, desavergonhadas! Um compositor dizer que “política é isso mesmo, fez o que deveria fazer”, o outro dizer que “política é meter a mão na ‘m...’”! 

Um artista, em qualquer país do mundo, é a consciência crítica de uma nação. 

E pior, ainda: os artistas estão fazendo isso em interesse próprio, porque recebem de empresas públicas contratos milionários — isso é a putrefação moral deste País........Ele pode ser eleito com 99,9%. Eu estarei aí na tribuna dizendo que ele deveria ter sido mesmo destituído.O que ele fez é muito grave. É muito grave. Curvo-me à vontade popular, mas não sem o sentimento de profunda indignação. 

A classe política já nem se fala, essa já apodreceu há muito tempo mesmo. Este Congresso que está aqui, desculpem-me a franqueza, é o pior de que já participei. É a pior legislatura da qual já participei. Nunca vi um Congresso tão medíocre. Claro, com uma minoria ilustre, respeitável, a quem 

cumprimento. Mas uma maioria, infelizmente, tão medíocre, com nível intelectual e moral tão baixo, eu nunca vi......... Um País que tem um Congresso desses, que tem uma classe política dessas, que tem um povo... Dizem que político não deve falar mal do povo. Eu falo, eu falo. Parte da população que compactua com isso? É lamentável.  Não é por desinformação, não. E que não é só o povão, não. É parte da elite, inclusive intelectual. Compactuam com isso é porque são iguais, senão piores. Vou continuar nessa vida pública? Para quê, para mim, chega!......O meu desalento é profundo. Deixo isso registrado nos anais do Senado Federal. Infelizmente, eu gostaria de estar fazendo outro tipo de pronunciamento, mas falo o que penso, Perdendo, ou não, votos, pouco me importa. Aliás, eu não quero mais votos mesmo, pois estou encerrando a minha vida pública, daqui a quatro anos, profundamente desencantado com ela.”  

pronunciamento do Senador Jefferson Peres, na Tribuna do Senado, em agosto de 2006: 

 

Ruy Telles - Sobradinho