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Tapa na cara do ministro - Ruy Castro FS

Na quarta-feira (31), Jair Bolsonaro aplicou a primeira bofetada no rosto de seu novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. O estalo se fez ouvir nacionalmente, à saída do Planalto, onde, pouco antes, ao lado dos presidentes da Câmara e do Senado, o ministro condenara as aglomerações que multiplicam a transmissão da Covid. Bolsonaro, sem máscara e sem escrúpulo, desautorizou-o —mandou as pessoas para a rua e, bem ao estilo miliciano, ameaçou cortar-lhes os auxílios se não fizerem isso.

O cândido dr. Queiroga que prepare as faces para os próximos tapas a elas reservados. Bolsonaro não hesita em desmoralizar qualquer ministro civil ou fardado que o contrarie minimamente. Neste momento, por exemplo, o grande problema é o lockdown. Queiroga, como médico, sabe que lockdowns temporários e localizados salvariam milhares de vidas. Mas, como não suporta nem ouvir a palavra, Bolsonaro espera que ele os condene com toda ênfase. Em vez disso, Queiroga gagueja que a população deveria cuidar ela própria de não se aglomerar. É pouco e vai lhe custar caro às bochechas.

A equação é simples. Queiroga aceitou ser ministro de um presidente que, pelo exemplo, omissão ou ordens expressas, condena a população à morte. Se se curvar às ordens, como fez Pazuello, passará à história como cúmplice da chacina. Se tentar se conservar à altura de seu diploma, como Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, sairá ou será saído.

Queiroga, em jovem, talvez não contasse com isso ao diplomar-se. Mas, se sujeitar-se a ratificar o chefe, seu nome estará no certificado de óbito dos milhares de brasileiros que morrerão durante sua passagem pela pasta. Talvez centenas de milhares —pela já prevista e assustadora progressão da pandemia entre os mais jovens.

O patético Pazuello foi o coautor dos óbitos de nossos pais e avós. A Queiroga caberão os de nossos filhos e netos.