Ângelo Macárius, o artista, o executivo
Entrevista a José Edmar Gomes
O músico Angelo Macarius, depois de passar três anos à frente da Associação Artise de Arte, Cultura e Acessibilidade - entidade cultural de promoção de arte e de eventos artísticos - entregou a presidência ao maestro Alex Paz, que fundou a associação há 14 anos e foi eleito no último dia 1º de fevereiro.
Sob a presidência de Macarius, a Artise transcendeu as fronteiras de Sobradinho e vem realizando grandes eventos em todo o DF, após especializar-se em parcerias com o poder público.
O ex-presidente, que continua na diretoria, agora como conselheiro, afirma que todo cargo representativo deve ser colocado a serviço dos representados. “Quanto mais alta a hierarquia, maior a necessidade servir”, ensina Macárius.
Ele, que sempre foi envolvido com projetos, convênios e na produção de shows, CDs e EPs de sua banda - a Macarius Fusion - revela que aprendeu muito de administração, nestes três anos, e garante que esta área requer especialização, por se valer de recursos públicos, que devem seguir rigorosamente os caminhos da lei.
Arte na Praça
A Artise ganhou visibilidade ao promover, com grande aceitação popular, duas edições do Projeto Arte na Praça, durante seis meses cada uma, nos anos de 2018 e 2019.
A terceira edição, no entanto, foi interrompida, em março de 2020, pela pandemia do coronavírus. Antes disso, a entidade já produzia shows musicais, eventos e CDs, sempre valorizando a “prata da casa”.
A partir do final de 2019, a Artise iniciou um processo de renovação, considerando as disposições da Lei 13. 019, de 31 de julho de 2014, Lei do MROSC (Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil), que regula as parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil e, a partir daí, com a mudança do estatuto, especializou-se em tais parcerias.
A entidade montou uma estrutura de contabilidade robusta; contratou advogados especializados para analisar os contratos e gestores de cultura, dedicados à gestão administrativa e financeira.
Com tal estrutura, a Artise qualificou-se para executar qualquer tipo de projeto e a firmar parcerias com o poder público, seja no âmbito do GDF ou do Governo Federal.
Grandes eventos
O resultado de tais mudanças foi uma rápida ascensão no mercado de entretenimento, passando a entidade a produzir grandes eventos, como a Festa da Goiaba, em Brazlândia; o Circuito Drive In nas Cidades e o Dia das Criança, em Santa Maria; eventos com grandes orçamentos e com alto nível de complexidade.
Apesar destas grandes realizações, fora de Sobradinho, Macarius observa que a música se sobressaiu, no Projeto Arte na Praça, uma vez que ela agrega pessoas mais do que outras vertentes artísticas. “A música é um atrativo forte e Sobradinho abriga centenas de músicos”, garante.
Para justificar a supremacia da música, nos seus três anos de gestão, Macarius pergunta: Quantas dramaturgos temos em Sobradinho e quantas pessoas estão envolvidas, por exemplo, com cinema aqui? Ele mesmo responde que não devem chegar a uma dezena, enquanto músicos se contam às centenas.
Artes plásticas
As artes plásticas, que já tiveram grande relevância e visibilidade, em Sobradinho, com a realização do Projeto Paradas; as bienais do pintor internacional, Toninho de Souza; e contam com a Galeria Vincent Van Gogh, sob administração da Gerência de Cultura da Administração Regional, por sua vez, não tiveram o mesmo espaço que a música, no Arte na Praça.
O ex-presidente justifica tal situação, afirmando que a Artise fez o que foi possível fazer com a verba que recebeu, dentro da arquitetura e circunstâncias do projeto.
- Na revitalização da Praça das Artes Teodoro Freire (onde foi desenvolvido o projeto) – diz ele – tivemos a participação de Toninho de Souza, Tom Mello e Jean, na pintura das mesas e na colorização de certos espaços.
“Foi um gesto muito simpático, destes pintores geniais, que nos serviram de sua arte espontaneamente”, revela. Segundo Macarius, o que foi feito foi o possível, a partir das condições do espaço.
“Afinal, o espaço da praça é exposto a chuvas e trovoadas. Conseguimos a cobertura do palco com muito esforço, assim como as barracas para as oficinas”, revela.
- José Edmar Gomes - O sr. entende que a Galeria Vincent Van Gogh cumpre o papel que deveria cumprir em relação às artes plásticas?
Macário – Tenho a sensação de que aquele espaço é mais voltado para os artistas do que para o público. Temos pintores importantes na cidade, mas você não vê o público na galeria.
- O sr. quer dizer que o espaço é elitizado e exclui a população?
– Não. As artes plásticas é que não atingem o cidadão comum, devido à complexidade de sua linguagem que, em muitos casos, não é compreendida.
- O que deve ser feito então para superar esta contradição, uma vez que a galeria deve atrair a população e formar público?
– A Vicente Van Gogh deveria ministrar cursos sobre a linguagem das artes plásticas, antes de cada exposição. De sorte que cada artista explicasse seu trabalho às pessoas, a partir das obras que vão ser expostas.
O ex-presidente da Artise adverte que, embora as artes plásticas carreguem consigo certos componentes de elite, a Galeria Vincent Van Gogh, necessariamente, não é um local elitizado; mas, na sua opinião, seria saudável que aquele espaço interagisse mais com a comunidade.
Toninho de Souza
Angelo Macarius pergunta, ainda, onde o trabalho de Toninho de Souza pode ser encontrado e quem o consome. Ele novamente responde que os quadros do pintor são comprados por pessoas de alto poder aquisitivo do Brasil e do exterior.
O repórter, no entanto, o adverte que Toninho de Souza e demais pintores de Sobradinho têm o mérito de ter realizado, durante anos, o Projeto Paradas, que transformou Sobradinho numa imensa galeria a céu aberto, assim como as bienais internacionais de pintura. Toninho mantém, ainda, um site de divulgação do seu trabalho, que alcança todo o Planeta.
Macarius reconheceu e valorizou as iniciativas de Toninho, argumentando que “elas vão ao encontro da formação de público, muito necessária”, uma vez que ele não vê, em Sobradinho, público à altura do nível da produção dos artistas plásticos locais.
Escolas
José Edmar Gomes - O Projeto Arte na Praça penetrou nas escolas públicas, em 2019, e contemplou grande parte dos alunos com aulas de música; oficinas de pintura em tecido e artesanato. Foi um momento importante do projeto, não foi?
Angelo Macarius - Foi um momento importantíssimo para o projeto e a ação que executei com mais prazer. Eu me envolvi inteiramente com ela, juntamente com o músico Luan Paz, o pintor Tom Mello e a instrutora de artesanato, Telma.
Levar o saber artístico a crianças e adolescentes, incluindo portadores de deficiências, vai ao encontro da necessidade da formação de público para as artes, desde o início da idade escolar.
Imagine você que teve escola que produziu 400 camisetas, pintadas com belas estampas artísticas.
Foi algo maravilhoso, pois o trabalho da Artise chegou à Escola Classe 11; ao Centro de Ensino Médio 01, conhecido como Ginásio; ao Centro de Ensino Médio 03 e à Escola do Lobeiral, que é um local de vulnerabilidade econômica, onde trabalhamos com centenas de crianças de áreas rurais.
Pelos meus cálculos, repassamos conhecimento a cerca de dois mil alunos.
O executivo
Ângelo Macarius ficou à frente da Artise, de 2017 a 2020, período em que a entidade deu um salto de qualidade
O artista
Angelo Macarius é também ator e professor de Artes Cênicas, com mais de duas décadas de atuação artística, sendo com a banda Lotus Negro, o criador e compositor do album "O andarilho". Este foi o seu primeiro album solo, com ótima repersussão no meio artístico e muito bem recebido por todos. Conceitual, "O andarilho" tem por base o arquétipo universal do louco do tarô, além do super-homem de "Assim falou Zaratustra e do filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
Com a colaboração de Tarcísio Pádua.