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Fanfarronice não governa, nem faz diplomacia - Jorge Serrão

O presidente Jair Bolsonaro deve ter deixado chateados, contrariados ou, no mínimo, intrigados muitos de seus seguidores, assessores mais próximos e familiares com sua mudança de postura. Bolsonaro aproveitou o dia da posse de Joe Biden e Kamala Harris para inaugurar um estilo mais pragmático e menos conflituoso, tanto para governar, quanto para fazer diplomacia. Só Bolsonaro pode garantir se isso será uma tendência, ou se foi apenas uma sinalização esporádica. Mas tudo indica que ele aprendeu a “lição” do caso Trump.

O Projeto US Press Freedom Tracker indica que, de junho de 2015 (quando Donald Trump lançou-se candidato) até o dia em que foi expulso do Twitter, o ex-presidente dos EUA tuitou 2.520 contra a imprensa. Média de mais de um ataque por dia à mídia. Por isso, os jornalistas o "amam". A estratégia da porrada permanente rendeu dividendos políticos junto ao eleitorado republicano. Só que o resultado final do desgaste foi muito maior, e Trump acabou detonado da Casa Branca.

A canhota sinistra aloprou com a postura correta e sensata de Jair Bolsonaro ao, finalmente e na hora certa, cumprimentar Joe Biden pela posse e anunciar que prosseguirá a parceria entre EUA e Brasil: “Cumprimento Joe Biden como 46º Presidente dos EUA. A relação Brasil / Estados Unidos é longa, sólida e baseada em valores elevados, como a defesa da democracia e das liberdades individuais. Sigo empenhado e pronto para trabalhar pela prosperidade de nossas nações e o bem-estar de nossos cidadãos”.

O mesmo tem de ser feito em relação à China e Índia. Nações jogam com interesses, e não com amizades pessoais entre dirigentes. Bolsonaro foi solidário ao “amigo” Trump até o limite máximo. Agora, não chega a ser rei posto, rei morto… Dificilmente conseguirá ser “amiguinho” do Biden. Só que também não vale a pena ser inimigo gratuito do presidente da Nação mais poderosa do planeta Terra.  

Ainda na guinada diplomática, indicando uma fuga do habitual radicalismo, Jair Bolsonaro aproveitou a solenidade de 80 anos da Força Aérea Brasileira para decolar um discurso mais ao agrado dos militares. Bolsonaro avisou que a "grande base" para cumprir sua missão no governo são as Forças Armadas. Claro, o recado também foi direcionado aos inimigos permanentes das “Legiões” terrestres, marítimas e aéreas: “Quando somos atacados, dependendo de onde vêm esses fogos, tenho certeza de que estamos no caminho certo. Eu prego e zelo pela união de todos, pelo entendimento, pela paz, pela harmonia. Mas os poucos setores que teimam em remar em sentido contrário, tenho certeza, vocês perderão. Hoje temos um governo que pensa no seu Brasil como um todo. A grande base nossa para cumprir essa missão são a nossa Marinha, o nosso Exército e a nossa Aeronáutica”.

Certamente percebendo o movimento astuto de Bolsonaro, quem também deu um recado coerente ontem, via twitter, foi o supremo magistrado Gilmar Mendes: “A pandemia e o obituário de mais de 200 mil brasileiros são os verdadeiros problemas. Os conflitos ideológicos e ególatras na política interna e externa são infelizes escolhas de atraso e isolamento. É tempo de união e coordenação pelo o que realmente importa: #VacinaJa”.

Bolsonaro já percebeu que a única saída urgente é ser pragmático, mais diplomático e menos belicoso, interna ou externamente. Preparem-se para a nova relação do Brasil com os EUA, a China e a Índia. Afinal, fanfarronice e falastrice não ajuda a governar, nem a fazer diplomacia com resultados benéficos para o Brasil. Parece que Bolsonaro virou a chave certa. Vamos aguardar para ter certeza… Aliás, como bem ensinava GK Chesterton: “Toda convicção é uma prisão”... E o crítico momento atual demanda Liberdade Criativa de Ação.