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E o "Caminhar" continua sua caminhada - José Edmar Gomes

O lançamento do livro de poemas, Caminhar, do jornalista Tarcísio Pádua, foi um fato importante na rotina cultural de Sobradinho. O livro vem caminhando, desde 4 de julho de 2018, quando foi lançado no Beirute da 109 Sul.O Velho Beira ficou cheio e o autor vendeu livros à beça. Foi uma noite interessante.Reencontrei meu velho amigo Carlos Elias. Ele, certamente, não me reconheceu, mas conversamos a noite toda, sobre tudo. O Velho Beira continua o mesmo. Nós é que mudamos... e como.

Tarcísio era jornaleiro,formou-se jornalista nos primeiros bancos do Ceub, juntamente com Renato Russo e outras figuras tipo “bicho grilo” do DF.Há tempos, ele escrevia poemas(e até ‘textículos’), pelas ruas, pelos bares, para as moças, para as coisas, para os lugares, para o nada. Para tudo. Até que resolveu dar forma de livro ao material. Demorô.

O também jornalista Antônio Décio de Carvalho, no prefácio, da obra, afirma que Tarcísio é um poeta que traduz o dia-a-dia, o cotidiano, para as páginas do livro.

“Seus poemas nasceram de sua garra de escritor, morando em Brasília - DF, que clama por revelar os momentos comuns da “Vida” das pessoas,” tropeça o prefaciador.

O PREFACIADOR

Caminhar é um livro simples. Honesto. Não é preciso dourar as ‘píulas’ para descobrir que a poesia de Tarcísio sopra como o vento nas folhas das árvores. Às vezes, é melancólica, como o pássaro buscando o ninho ao final do dia... E despretensiosa como criança atrás de uma bola.“E o poeta, ao viver esse “Encanto” do viver, percebe que a simplicidade está mais próxima da humanidade do que se imagina ou se deseja,” desexplica o nosso caríssimo prefaciador.Não importa que o prefaciador vá além do que deveria, que o livro não tenha orelha, texto de contracapa, que o cara que caminha na foto da capa não seja o poeta e que o “autor clame por revelar os momentos comuns da “Vida” das pessoas”.

 O importante é que Tarcísio escreveu o que queria,do jeito que queria, chegando mesmo a parodiar Roberto Carlos:"Eu só quero um camnho:/Caminhar sob o céu/De Sobradinho" (Caminhar, pág.38). É nóis!

POLÍCIA

E Caminhar foi caminhando. Foi atração da IV Bienal Brasil do Livro e da Leitura, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em setembro de 2018.E também foi caso de polícia: no estacionamento da Bienal, o carro do autor foi arrombado e os larápios levaram apenas exemplares de Caminhar, deixando para trás obras da literatura universal.A história rendeu entrevistas na mídia e muito falatório. Eu vi tudo (pela TV), mas não acredito em nada. (Seria o Binidito ou Jacaré?). De qualquer forma, o BO foi registrado na 5ª DP.

Mas Caminhar foi caminhando... Tarcísio o levou ao Sarau do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB); à Poesia Candanga, no Martinica Café; à tarde de autógrafos, no restaurante Morada Mineira de Sobradinho e à Mostra Latino-Americana de Artes, dia 13 de setembro de 2018, na Galeria Vincent Van Gogh, em meio às feras das artes plásticas.O livro também foi lançado na Praça das Artes, durante as edições do Projeto Arte na Praça. Está nas bancas de jornais, na capanga do poeta e onde mais o aceitarem. Caminhar já tem quase ano e meio de caminhada e não vai parar. Qualquer dia, você vai se deparar com ele por aí.

Dois dedos de prosa sobre a poesia de TP  --- José Edmar Gomes

 

 

Aforismos, diatribes, devaneios e inconfidências, além de poesia, é claro, compõem as páginas de Caminhar. O livro do jornalista Tarcísio Ferreira Pádua, o popular TP, além de ser um inventário de sua vida, revela em pesadas tintas o amor que ele sente pela Cidade Serrana.“Eu só quero um caminho:/Caminhar/Sob o céu de Sobradinho”, confessa Pádua, à pág. 38. Os versos são mais do que verdadeiros. Tarcísio, de fato, passa boa parte do seu dia a dia a caminhar literalmente pelos espaços da Cidade, serpenteando os diversos “trieiros” que atravessam ou circundam as faixas verdes das quadras.

Deste caminhar, que mais parece o planar de um gavião a mirar a sua presa, é que vem as imagens e impressões que constroem o conteúdo de Caminhar. Versos, às vezes simples, capturados à banalidade da vida. Assim como em Corrida (pág. 56): Os que correm/Morrem./Os que não correm/Morrem./É certo, todos/Morrem. Por isso, todos/Correm.

Às vezes, reflexivos e impactantes, como em Caminhos (pág. 39): ... Sei que preciso aprender,/ O mais rápido possível,/ A mover moinhos./ Senão, de repente, eu nem sei/ Quais serão meus pequenos caminhos.Assim, os textos vão alternando profundidade e leveza. Alguns, um tanto confessionais, que faz o livro semelhante a um diário da vida ‘ordinária’ e extraordinária do poeta, que já poetou com Renato Russo e outros luminares de Brasília, nos tempos dos Poetas do Ceub.

Pádua participou, também, de coletâneas, publicadas Brasil afora, e partilhou comigo, por duas décadas, as amarguras e delícias, de editar e dirigir este Folha da Serra. Sou suspeito para falar dele, portanto.Tarcísio, que também é jornalista e diplomata de carreira, como todo poeta, é dotado de alma e sensibilidade especiais que o permitem ver beleza e graça em situações, coisas e circunstâncias improváveis para os comuns mortais, que não têm o faro, nem astúcia, nem lira, nem lábia, nem lápis para cantar à sua musa versos inspirados ou tiradas vagabundas, dignas de uma paixão de sexta-feira à noite, num bar qualquer.Se a alguém interessar possa, confesso que gostei do que li em Caminhar. Observo, porém, que, às vezes, o tom confessional individualiza o seu autor, que não se peja por suas paixões mais sôfregas e até as culpa por sua solidão.

Solidão... esse sentimento comum aos poetas que, quase sempre, embaralham um monte de desejos e incontidas paixões.

Mas, a solidão encontra na poesia de Pádua alento e porto para compensar a incompreensão das mulheres que sempre abandonam os poetas, enquanto eles se fecham no seu quarto de angústias para produzir versos de amor a elas, o que consome o tempo que deveria ser dedicado a amá-las. Mas quem entende as mulheres? Os poetas? E quem entende os poetas? As mulheres? As mulheres, com certeza, não entendem que o ofício do poeta é perseguir a poesia na rua, na chuva, nos bares, dentro dos ônibus e dos trens, no quintal ... e, por isso, não sobra tempo ao poeta para cortejá-las, assim como eles cortejam as palavras.As mulheres...Ora, as mulheres... é por elas também que os poetas empreendem toda essa jornada  pela vida. Jornada, muitas vezes, insensata e perigosa,  que os fazem partir para o ridículo de duelar por sua amada ou para a coragem de declinar seu nome, num poema tosco, escrito sob uma tosca mesa de butiquim.

Ser poeta dá trabalho… E o pior é que as pessoas acham que não. Que poesia vem só da iluminação. Assim como num instante de beatitude. Mas não, os poetas sofrem porque se expõem e não mentem. E a verdade dói em todos. Tanto nos que a declinam, quanto nos que a sublimam. Caminhar tem o mérito, também de expor os sofrimentos e mazelas da vida do poeta. É um livro honesto, portanto.  Honestidade de propósito edifica o resultado de qualquer trabalho.

 Continue a caminhada, meu caro Tarcísio, pois é longa (ou não) a estrada da vida e a poesia, às vezes, se esconde atrás da utopia ou “daquela serra acolá”, mas é caminhando que se chega lá.