O Itamaraty em Xeque - Por Fábio Chazyn
O Mundo está atropelando o Brasil!
Se as maiores potências do Mundo estão em guerra, então o Mundo está em guerra!
Procura-se um Mediador! Paga-se MUITO bem!
Como poderia o Brasil, um país com a 6ª maior população, com as maiores reservas minerais e o maior potencial agrícola, portanto detentor de alguns dos maiores mercados do Mundo, ver a disputa entre os dois principais países sem entrar nela ou mediar a briga?
Será que o Brasil não tem “DNA”? É terra-de-ninguém esperando passivamente que um estrangeiro venha tomar posse dela? Ou é formado de patriotas dispostos a defendê-la e a defender os valores que lhes são caros?
Se a questão que se coloca é se o Brasil tem Futuro, então é o caso de acreditar que para construí-lo temos que defender as suas pré-condições.
O Brasil também está em guerra, lutando pelo seu futuro!
Quando se trata de conflitos que decidirão quem serão os conquistadores e os conquistados, dominadores e subjugados, como neste embate econômico travado entre os Estados Unidos e a China, envolvendo diretamente os nossos interesses, então não temos alternativa senão lutarmos por eles.
A Pátria nos convoca para irmos lutar no ‘front’!
No passado recente, para não irmos muito longe com igual exemplo, os nossos “Pracinhas” foram às terras longínquas como aliados às causas que os “outros” defendiam: os valores da Liberdade. Voltaram com as honras que celebramos até hoje. As honras da luta e as glórias da vitória!
Nossa hora chegou novamente. Se a vitória do Brasil depende da nossa “raça”, então “verás que um filho teu não foge à luta, nem teme, quem te adora, a própria morte”.
O ‘front’ da guerra atual é a diplomacia. Nossa tática passa pela sabedoria da mediação de conflitos; de saber bater, alternativamente, “no cravo e na ferradura, para não assustar o cavalo”. O governo Bolsonaro deu as primeiras batidas. Uma nos Estados Unidos e outra na China, para não assustar todo mundo... Marcou presença dentro das fronteiras dos dois beligerantes.
Com passo firme, as botas do Vice-Presidente, General Mourão, deixaram pegadas no projeto “BRI - Belt & Road Initiative” - a estratégia chinesa de marcar um enorme território econômico autônomo. Protegido das represálias americanas, essa nova Rota-da-Sêda pretende cooptar 80% dos países do Mundo através da construção de um cinturão de infraestruturas.
No ‘front’ americano, Bolsonaro bateu ainda mais forte. Decidiu fincar bandeira na capital americana transformando a Embaixada do Brasil em Washington em “campo-de-batalha”. A estratégia é transformá-la em ‘casa-mata’ para nos defender da hostilidade nacionalista do estilo Donald Trump.
Para Trump, dominar o cyber-espaço não é só uma questão de honra. É “Estratégia de Segurança Nacional”, conforme ele tem insistido sem disfarçar. Não esconde que, se não segurar a Huawei e sua nova geração de equipamentos acoplados na tecnologia 5G, a hegemonia do sistema Android da Google ficará em perigo. Alguns vão ainda mais longe e temem também pelo futuro do Facebook, Microsoft, Apple, IBM, Amazon, da mesma forma como foi sucateado o IBM 360, base da linha Univac, também superada no tempo, apesar da façanha de levar o homem à Lua...
Um país como o Brasil, representando a quarta “frota” mundial de celulares, perdendo somente para a China, a Índia e os Estados Unidos, tem a ‘autoridade-comercial’ para ser um ‘player’ nesta questão.
E o que dizer de outras questões quando lembramos a nossa capacidade de alimentar o Mundo inteiro, os nossos recursos naturais e o enorme mercado sedento de investimentos e de consumo?
Ademais, as instituições multilaterais, como o Banco Mundial, FMI, WTO, ficaram combalidas pela investidura Trumpista. A Embaixada do Brasil nos Estados Unidos tem que estar apta para explorar o ‘vácuo-político’ aberto com o recuo dessas instituições.
A China deu exemplo de tática de cooptação e avanço. A estratégia chinesa, centrada na construção de alianças estratégicas, é clara sobre como pretende conseguir apoios de terceiras nações para fincar a sua bandeira e concluir a construção do cinturão de influência da nova Rota-da-Sêda.
Do lado americano, Trump segue aliando os seus já aliados. Os países alinhados com os Estados Unidos não tem alternativa fácil. Para eles, decidir diferentemente seria como se a Terra decidisse deixar de orbitar o Sol, tal é a dependência que criaram do maior mercado de consumo do Mundo.
No nosso caso, a ‘grande estratégia’ seria a formação de uma ‘cidadela diplomática’ com as nossas embaixadas alinhadas e articuladas para blindar a nossa ‘casa-mata’ em Washington e irradiar, a partir dela, o nosso avanço sobre novos ‘territórios’.
A atual geração de diplomatas do Itamaraty foi formada para promover o modelo de “globalização-econômico-financeira” e o projeto de integração da América Latina sob a idéia chavista-lulista, completamente anacrônica, de criação da Ursal - União das Repúblicas Socialistas da América latina.
O Itamaraty e a Apex – Agência de Promoção de Exportações, durante décadas, se limitaram a promover feiras e facilidades para encontros de negócios. Foi a vez da doutrina do ‘B2B – Business to Business’.
Agora é a vez do ‘Comércio Exterior Patriótico’. Este novo modelo implica a re-capacitação do quadro de diplomatas do Itamaraty.
Para essa reciclagem se exige mais do que conhecimento de ferramentas de marketing. Exige o resgate do sentimento de patriotismo e o alinhamento do Itamaraty com a nova proposta de colocar o “Brasil Acima de Tudo”.
É preciso, sim, continuar promovendo superávits da Balança Comercial. Mas além de produzir lucro para o setor privado, será necessário que as negociações internacionais contemplem também o setor público.
Negócios “spot” têm que dar lugar a negócios estratégicos de longo-prazo, sem os quais não dá p’ra pensar em construir infraestrutura, silos, ferrovia, entroncamentos, portos, etc, etc, etc...
Neste particular, os chineses têm lições a nos dar. Não se consegue negociar com a China sem passar pelo crivo do seu “plano estratégico de nação”
Nós também precisamos entender que privatizar ou exportar não é somente vender ativos ou produtos. É vender mercados! E mercado é “coisa-pública”. A monetização de produtos e de mercados tem que ser diferenciada. Quem quer o privilégio de explorar os mercados de uma nação, seja de venda como de compra, tem que ajudar a capacitá-la a cumprir os desafios inerentes.
Internamente, nessa hora da luta para fincarmos a nossa bandeira nos novos ‘fronts’, só unidos é que podemos afirmar os nossos interesses.
É na qualidade de Patriotas que vamos conseguir garantir as condições prévias de um Futuro que seja auspicioso.
Defender o Brasil é ato de Patriotismo.
É hora do sentimento de patriotismo sair dos quartéis onde ficou confinado tanto tempo. O nosso Vice-Presidente da República, General Hamilton Mourão, já saiu.
Sem prejuízo às importantes e complementares competências administrativas do titular do Ministério de Relações Exteriores, uma Força-Tarefa encabeçada pelo General Mourão e apoiada pelo Itamaraty deverá ser a nossa “ponta-de-lança”.
Temos quem precisamos para encarnar a autoridade, o conhecimento, a experiência e a liderança exigidos nesse grande desafio de reposicionar o Itamaraty nestas novas bases.
Afora a suas qualidades pessoais, o credenciamento do voto e do suporte da 6ª maior população do Mundo reveste o Vice-Presidente com a autoridade-moral para mediar conflitos políticos não só aqui, mas também em terras estrangeiras.
De fato, o momento atual de realinhamento mundial em torno das cadeias-de-valor, ora em formação, implicará, como já podemos entrever, muitas disputas internacionais e oferecer ao General Mourão, apoiado pelo Itamaraty, muitas oportunidades de mediação.
Negociador-inato, ele já provou que sabe tirar proveito da temperança e da humildade. Também no ‘front’ externo, o General Mourão não nos privará de suas qualidades e saberá trazer para o Brasil as vantagens consequentes.
Campeão de mediação, o Barão do Rio Branco, que o diria, se pudesse.
O ‘campo-de-batalha’ do século 21 exige armamento mais ousado do que o simples ‘B2B’. Não podemos desperdiçar as 138 representações diplomáticas que mantemos a duras penas nos quatro-cantos-do-mundo. Precisamos tirar proveito dessa presença e fazê-las valer a pena.
A promoção do ‘Comércio Exterior Patriótico’ vai catapultar o Brasil ao lugar que merece e será a alavanca para reequipar a nossa economia.
A hora da conquista é agora. A luta dos nossos compatriotas-diplomatas nos ‘fronts’ é a nossa glória.
Fabio Chazyn, empresário, engenheiro, cientista político e escultor. (Este texto é um capítulo do livro “O Brasil Tem Futuro?” com lançamento previsto para fevereiro de 2020)