Feliz 2020, Brasil!
Os votos de ano novo confundem-se com os votos natalinos. Natal, não esquecer, é a data em que comemoramos o nascimento de Jesus Cristo, principal guia espiritual da Humanidade. Embora ela esteja se transformando na apoteose do consumismo.
Cristo, sejam quais forem nossas convicções e crenças, simboliza um ideal de ser humano. E qual foi a lição que Cristo procurou nos ensinar, há mais de dois mil anos? Creio que ela possa ser abreviada na sentença “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Advertência que teimamos, resistimos aprender, negamos. Esse ensinamento-advertência nos diz muito.
“Ama a Deus”. Qual o entendimento que temos sobre Deus? Creio que não existam duas pessoas que pensem igual. Talvez seja mais certo acreditarmos que não o conhecemos plenamente, mas conhecemos sua obra. Deus seria o criador. Da vida, de nós mesmos, do planeta Terra, do sistema solar, do universo. Se não conseguimos entrar num acordo sobre quem seja Deus, deveríamos entrar num acordo sobre amar, e respeitar, a sua obra. Amar a vida, em todas as suas formas, humana, animal, vegetal. E amar o planeta Terra, essa jóia única pairando no espaço, que nos concede o milagre da vida. Amar o ar que respiramos, a água que nos dessedenta, os solos que produzem nosso alimento, os recursos naturais com os quais a civilização prospera, as belezas naturais que nos iluminam a alma. Amar os arranjos que fazem funcionar com perfeição tudo isso que conhecemos. Amar a Deus poderia então ser traduzido como amar a natureza.
“Ama o próximo”. Quem é mesmo o próximo? O familiar, o amigo, o colega de trabalho, o correligionário, o vizinho de bairro? Ou o nosso contemporâneo, esteja ele onde for, e que conosco compartilha este momento de encruzilhada do ser humano, em que convivem o desperdício e a miséria, a desfaçatez e a consciência, a imbecilidade e o discernimento, a beligerância e a solidariedade, a ignorância e a sabedoria? O próximo talvez seja todo aquele que conosco, nesta época de deslumbramento da humanidade, enfrenta o desafio de saber vencer o que dizem ser a adolescência da civilização, em que já temos tecnologia para nos emanciparmos ou para nos aniquilarmos, e nosso juízo ainda vacila sobre qual caminho seguir.
“Ama a ti mesmo”. É preciso que nos digam que devemos aprender a amar a nós mesmos? As estatísticas sobre suicídios, crimes passionais, doenças depressivas, consumo de drogas lícitas e ilícitas, parecem dizer que sim. Além da renúncia de nós mesmos ao apelo da mídia que nos aliena, do consumismo que nos ilude, dos comodismos que nos viciam, do individualismo que nos distancia, dos falsos estadistas que nos aliciam.
Mas talvez, na sentença de Cristo, o primordial não seja entender quem seja Deus, nem o próximo, nem o que signifique o ti mesmo. Talvez o essencial seja o verbo amar. É esse verbo que já demoramos mais de dois mil anos para entender.
Que em 2020 sejamos, então, mais amorosos. Um 2020 mais amoroso, Brasil!