Planaltina - complexo cultural á céu aberto
O Complexo Cultural de Planaltina (CCP) abre a semana de cara nova. Contando com o talento de 15 artistas do grafite do DF, as paredes externas do espaço estão cheias de cores vivas e do poder contagiante da arte urbana. Finalizado na tarde de domingo (4), o amplo painel de mais de 8 m de altura exalta a cultura e a importância histórica da centenária cidade, materializando, na prática, o resultado do edital Planaltina Arte Urbana, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), que destinou um total de R$ 22,5 mil ao segmento artístico.
“Existe uma relação intensa entre as RAs [regiões administrativas] e as artes urbanas”, pontua o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues. “Encher as paredes do Complexo Cultural de Planaltina, que completa dois anos de intensa existência neste domingo, é um presente cheio de afeto para a cidade e sua população.”
A instituição encontra excelente receptividade por parte dos moradores, destaca o gerente do complexo, Júnior Ribeiro. “Muitos artistas usam o complexo para conseguir visibilidade e promover o intercâmbio cultural”, afirma. “É um lugar de fomento da cultura, e somos o mais democráticos possível no acesso à comunidade”.
Grafite valorizado
A ideia de promover uma grande intervenção na parte externa do Complexo Cultural da cidade, de 161 anos, teve duas finalidades. A primeira é evidenciar a importância do lugar como espaço de entretenimento para a comunidade local. A segunda, valorizar a arte do grafite por meio de jovens talentos do segmento espalhados em todo o DF. Ao todo, 45 artistas se inscreveram no edital.
Os 15 selecionados desenvolveram trabalhos individuais que deram unidade conceitual ao projeto dentro do tema “Planaltina: Patrimônio, Cultura e Identidade de uma Cidade Centenária”. O resultado é um cartão-postal afetivo local. Assim, jatos de spray e muita criatividade deram contornos e poesia visual aos símbolos históricos da cidade, manifestações populares seculares locais e personagens que marcaram Planaltina.
Personagens ligados à cidade histórica marcam presença na arte dos grafiteiros criada especialmente para o Complexo Cultural de Planaltina
Foram lembradas, entre outras coisas, a Pedra Fundamental – primeiro marco simbólico da mudança da capital para o Planalto Central –, a mítica igrejinha de São Sebastião, a festa do Divino Espírito Santo e a lida dos primeiros moradores da região, além da trajetória dos pioneiros, como o astrônomo belga Luís Cruls (líder da equipe que delineou o quadrilátero do DF) e Tia Neiva (fundadora do Vale do Amanhecer). A pesquisa foi ferramenta fundamental no processo de criação dos artistas.
Que o diga Alain Oliveira da Silva, 36 anos, o Onk. Formado em designer e turismo, o grafiteiro de Sobradinho viu, na experiência promovida pela Secec, uma oportunidade única de se aprofundar um pouco mais na herança patrimonial e história da RA mais antiga do DF.
“Tive que pesquisar porque, até então, eu não conhecia a história de Planaltina, e foquei nos patrimônios históricos da cidade”, conta, referindo-se à Igreja São Sebastião, aos casarões do lugar e à Pedra Fundamental. “Espero que o nosso trabalho desperte atenção de todos que passam por aqui. Estamos resumindo na arte do grafite a história e tradições de Planaltina.”
É exatamente essa a premissa do gerente do complexo. “São desenhos que resgatam a história da cidade, e esse painel servirá também para o estudo de educação patrimonial”, planeja Júnior Ribeiro. “A gente vai contar a história de Planaltina a todos que passam por aqui por meio desse trabalho de arte”.
Trabalho em etapas
Cada um dos artistas selecionados para o projeto da Secec recebeu R$ 1,5 mil de cachê. Para evitar aglomeração, os 15 contemplados foram divididos em grupos ao longo de quatro dias. Devidamente aparelhados com máscaras de proteção contra a Covid-19 e equipamentos de segurança de escalada como capacetes, cintos e mosquetão (ganchos), os grafiteiros trabalharam, literalmente, nas alturas, em cima de estruturas de andaimes montadas especialmente para este projeto.
Afinal, eram 18,4 m² de espaço para eles esparramarem seus talentos, um paredão de 8 m de altura por 2,3 m de largura. Um desafio que todos encararam com tranquilidade. “Uma das grandes dificuldades que nós grafiteiros temos é de encontrar espaços adequados para esse tipo de manifestação artística, então foi uma aventura prazerosa”, relata Karek, pseudônimo de Leonardo Henrique Martins, 29 anos. “Só de estar participando aqui é uma honra, sobretudo por estar representando a Saída Norte de Brasília, que é Sobradinho, Planaltina”.
Karek já foi pichador de rua, mas hoje tem orgulho de dizer que ganha a vida como grafiteiro. “Fazia pichação mais pela adrenalina, depois comecei a apostar mais no meu potencial como artista e virou profissão”, revela.