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Carta a um jovem leitor - Percival Pugina

Por Percival Puggina

O leitor me escreveu sem saber o que mais fazer. Ele tentara inutilmente entrar em contato com congressistas de São Paulo, onde é eleitor, e não obteve resposta às perguntas e conclamações que lhes fazia. E agora?

Escrevi ao moço que ele deveria denunciar publicamente o silêncio desses congressistas. Ao fazê-lo, cabia-lhe qualificar tal conduta como de fato é: covarde, autoritária, desrespeitosa. Que ele deveria expor tudo que ela revela sobre quem se esconde e se omite em dar satisfações a seus eleitores ou aos cidadãos de seu estado. Disse-lhe que tais tipos só vivem e sobrevivem no subterrâneo da política, desde que seus movimentos e suas ações não sejam conhecidos e trazidos à luz. Mostrei-lhe a importância de abordar esse assunto nas redes sociais e mediante mensagens aos meios locais de comunicação. Aqui, dou continuidade àquela carta.

Ela me trouxe a uma passagem do livro Democracia Totalitária. À página 96, o querido, sábio e saudoso amigo, professor Giusti Tavares, doutor em Ciência Política, escreveu: “Partidos e homens públicos têm a responsabilidade de publicar não só suas concepções e estratégias políticas, mas as revisões e mudanças que quanto àquelas tenham feito”.

Em Porto Alegre, onde escrevo, a candidata do PCdoB à prefeitura, em aliança que tem o PT como vice, simplesmente faz tábula rasa, dos símbolos e cores partidárias. Com a proximidade do período eleitoral, o vermelho vira violeta. A foice e o martelo perdem protagonismo. Sem explicitar até que ponto isso representa uma ruptura com o dogmatismo inerente aos partidos comunistas, a candidata afronta uma regra de transparência e exemplifica o inverso da situação preconizada pelo professor Giusti Tavares.

Em qualquer campanha eleitoral, o eleitor deveria escanear (se possível fosse) o cérebro dos candidatos. Deveria prestar muito mais atenção a eles como pessoas, ao que eles pensam, e muito menos às eternas “propostas”, que podem ser buscadas num manual ou num catálogo e valem muito menos do que parecem nos comerciais de rádio e TV.

Refiro-me, é óbvio, à sua visão de mundo, de pessoa humana, de sociedade, de Estado, de democracia, de história. Na vida pública, adquirem especial relevo valores e princípios, ou seja, o compromisso com o bem e as normas que subordinam seu comportamento.

A decepção do eleitor é muito mais frequente com os caramujos que se escondem e com os que adotam o mimetismo dos animais, tomando as cores do ambiente onde se camuflam para capturar presas, digo, eleitores. Mas isto é assunto para outro artigo.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário e escritor.